sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Pacientes e terapeutas, professores e alunos

Olá, 

Não consegui escrever na semana passada, talvez por ter ficado bastante impactada pelas reflexões da semana anterior, em que falei sobre os desligamentos que alguns pacientes fazem, "abandonando" o tratamento sem um processo gradual ou consentido entre os dois.

Neste sentido, acho que o terapeuta pode se sentir magoado ao ser "abandonado", pois investimos muita energia no paciente, buscando compreendê-lo e ajudá-lo com questões que não são óbvias e que estão escondidas até dele mesmo. Nosso trabalho é de uma dedicação, atenção, minuciosa avaliação e escuta e nos atrelamos profundamente ao paciente que chega, à sua história e à sua demanda de cuidados.

De forma semelhante, o paciente também precisa ser muito corajoso para poder nos dar o aval para entrar e vasculhar estes pensamentos livres, esses medos, essas travas e as falhas mais genuínas deles. Eles nos permitem entrar pois sabem que de onde estão, de dentro de si mesmos, não conseguem olhar e perceber o que precisam fazer para entender e para mudar o que lhes atrapalha.

Essa troca, quando acontece genuinamente no consultório é muito eficaz, pois traz ao paciente um vínculo de confiança e uma liberdade de ser a si mesmo que em muitos âmbitos da vida cotidiana, seja social, familiar ou de trabalho, não é possível. E é muito libertador ter um espaço semanal em que se pode pensar e falar livremente sem as censuras cotidianas que nos fazem querer agradar o ouvinte. Sem medo de críticas.

No trabalho como professora, vivo algo semelhante. Meus alunos e seus pais precisam de um vínculo forte, de confiança, que também é construído aos poucos no cotidiano. Não é possível ser um bom professor sem bons ouvidos, sem sensibilidade, sem se colocar no lugar do outro para saber onde eles estão em seus processos de aprendizagem, seja no sentido pedagógico, de conteúdo, seja no processo de elaboração, de socialização e de relação com seus pares e consigo mesmos.

Na educação também sofremos com as despedidas, mas elas são mais programadas, são anuais, e a convivência acontece de forma muito mais intensa, em número de horas e de dias na semana, apesar do contexto grupal.  

Acho que nas duas áreas consigo ir elaborando estas aprendizagens e enriquecendo uma com a outra. E me preparando aos poucos para entender mais e melhor sobre os seres humanos únicos e incríveis que vão chegando e partindo.

Que bom que eles chegam e partem para continuar suas trajetórias, enriquecidos, como eu, de mais esta etapa de sua aprendizagem e crescimento pessoal que acontecem nas relações reais que construímos pela vida.


Um abraço,
Carol

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