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segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

Tragédias do início do ano e a necessidade de repensar as relações entre a pessoas

Olá, 

Difícil não passar por aqui para comentar as notícias doídas do país com que inicia o nosso ano. 

Primeiro perdemos um ambulante que defendeu uma colega no metrô Pedro II em São Paulo, pelo simples fato de ela ser uma transsexual e os homens, bêbados no dia de natal, distribuindo violência gratuitamente.

Difícil não lembrar que a reverberação do caso se deu pelo fato do evento ter sido filmado pelas câmeras do metrô e também pela morte em si ter sido de um homem heterossexual que defendeu a moça transsexual, num ato de heroísmo, por ser sua amiga. Se ela fosse a vítima, duvido muito que o caso teria a reverberação que teve. Como a maior parte dos casos que acontecem o tempo todo não tem. 

Depois, no ano novo, tivemos a chacina de um pai que matou grande parte da família da esposa e o filho de 8 anos, se matando em seguida. 12 mortes. Vítimas do machismo, como podemos constatar na sua carta de despedida, divulgada pela imprensa.

E hoje, tivemos a chacina na penitenciaria da Amazônia, que permitiu que facções rivais estivessem num mesmo ambiente. O Estado que é responsável por estas vidas permitiu esta violência, já que a instituição inclusive é dirigida por uma empresa terceirizada e não diretamente pelo governo. Um absurdo. 

Estou muito impactada e espero que possamos reverter esse quadro de desolação e desesperança com o qual entramos o ano. 

Temos muito o que refletir e melhorar em nossas ações e na forma como educamos as pessoas, em especial os homens, para deixar de permitir que ações baseadas em subjulgar o outro como inferior como fazem com as mulheres, com os homossexuais, com os pobres e com os negros.

Precisamos de mais empatia, mais amor entre as pessoas, mais noções básicas de direitos humanos e de justiça social para que as pessoas se machuquem menos, se tratem melhor, confiem mais em si mesmas e no outro.

Precisamos de mudanças na cultura que rege as nossas relações e nossas noções de papel social, com urgência. 

Precisamos cuidar mais de nós mesmos, para que não façamos ou sejamos vítimas de algo parecido com o que tem acontecido em nenhum grau de comparação.

Vamos ficar atentos!

Um abraço, 
Carol


quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Sentidos, limitações e intolerância

Olá, 

Hoje, conversando com um leitor do blog, percebi que tenho falado bastante sobre a necessidade do respeito às diferenças, mas não sobre o que eu penso sobre a origem destas diferenças. 

Como já comentei em outros textos, considero que cada pessoa possui a sua própria verdade e que isso se justifica por conta de uma realidade simples e objetiva que é a nossa condição real e biológica de experimentação do mundo. 

Cada um de nós só consegue experienciar o mundo através dos nossos próprios sentidos. Olhamos, ouvimos, sentimos, pensamos e refletimos sempre a partir de nossa própria experiência e só dela.

Moramos dentro da nossa cabeça e do nosso corpo, somos marcados pelas nossas experiências físicas, intelectuais e emocionais ao longo do tempo e através dessas marcas é que existimos. Somos frutos dessas marcas, produtos de uma série de desventuras e só conseguimos observar as coisas, as pessoas e o mundo através delas. 

O contato com o outro é marcado pelo que somos. Observamos o outro através dessa única lente possível que é a nossa experiência no mundo. E não existe outra verdade que não a verdade de cada um, porém, o risco de aceitarmos a nossa verdade completamente é a de anular a credibilidade na verdade do outro. Isso é a fonte da intolerância. 

Não suportamos nem pensar que a lente do outro seja diferente da nossa. Não suportamos supor que a nossa verdade seja parcial e não totalizante, por que isso gera angústia, dúvida e voltamos a pairar no universo da ignorância de não saber tudo sobre coisa alguma, nem sequer sobre nós mesmos.

Para deixar de lado essa angústia que beira o insuportável supomos coisas, inferimos coisas, categorizamos pessoas, comportamentos, formas de ser e viver, ignorando a prerrogativa máxima da vida que é a diversidade total e absoluta de possibilidades de interpretação dos sentidos possíveis dela.

Quando falamos sobre tolerância, falamos em nome de um grupo ou outro já classificado: "os negros", "as mulheres", "os homossexuais" ao invés de pensar nessa diversidade absoluta e individual em cada história, interpretação ou nas marcas.

Proponho aqui uma tentativa de retirar, nem que seja por um minuto, a nossa lente viciada em nossa verdade, para observar com abertura a verdade do outro. Essa tarefa gera vulnerabilidade e medo, mas possibilita a verdadeira conexão com o outro, ampliando de maneira impensável a nossa compreensão do mundo a cada vez que fazemos isso.

Nos colocamos no lugar do outro, tentamos compreender a sua interpretação do mundo, respeitamos a sua verdade e seguimos em frente mais ricos e cheios de experiências de vida, de conhecimento, de crescimento pessoal e coletivo.

Vamos tentar?


Um abraço, 
Carol