Olá,
Difícil não passar por aqui para comentar as notícias doídas do país com que inicia o nosso ano.
Primeiro perdemos um ambulante que defendeu uma colega no metrô Pedro II em São Paulo, pelo simples fato de ela ser uma transsexual e os homens, bêbados no dia de natal, distribuindo violência gratuitamente.
Difícil não lembrar que a reverberação do caso se deu pelo fato do evento ter sido filmado pelas câmeras do metrô e também pela morte em si ter sido de um homem heterossexual que defendeu a moça transsexual, num ato de heroísmo, por ser sua amiga. Se ela fosse a vítima, duvido muito que o caso teria a reverberação que teve. Como a maior parte dos casos que acontecem o tempo todo não tem.
Depois, no ano novo, tivemos a chacina de um pai que matou grande parte da família da esposa e o filho de 8 anos, se matando em seguida. 12 mortes. Vítimas do machismo, como podemos constatar na sua carta de despedida, divulgada pela imprensa.
E hoje, tivemos a chacina na penitenciaria da Amazônia, que permitiu que facções rivais estivessem num mesmo ambiente. O Estado que é responsável por estas vidas permitiu esta violência, já que a instituição inclusive é dirigida por uma empresa terceirizada e não diretamente pelo governo. Um absurdo.
Estou muito impactada e espero que possamos reverter esse quadro de desolação e desesperança com o qual entramos o ano.
Temos muito o que refletir e melhorar em nossas ações e na forma como educamos as pessoas, em especial os homens, para deixar de permitir que ações baseadas em subjulgar o outro como inferior como fazem com as mulheres, com os homossexuais, com os pobres e com os negros.
Precisamos de mais empatia, mais amor entre as pessoas, mais noções básicas de direitos humanos e de justiça social para que as pessoas se machuquem menos, se tratem melhor, confiem mais em si mesmas e no outro.
Precisamos de mudanças na cultura que rege as nossas relações e nossas noções de papel social, com urgência.
Precisamos cuidar mais de nós mesmos, para que não façamos ou sejamos vítimas de algo parecido com o que tem acontecido em nenhum grau de comparação.
Vamos ficar atentos!
Um abraço,
Carol
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segunda-feira, 2 de janeiro de 2017
segunda-feira, 14 de novembro de 2016
Representatividade: sobre pertencer a um grupo e não estar mais sozinho
Olá,
passei estes dois últimos meses preparando uma fala para o "I Simpósio Psicologia e Sociedade" do Núcleo Paradigma, um espaço de formação de Analistas do Comportamento, que aconteceu neste sábado.
Neste simpósio, minha fala foi sobre psicoterapia e feminismo e, além de meu tema, pude participar ouvindo a apresentação de colegas psicólogos falando sobre o trabalho com a questão racial (especialmente a questão dos negros) e a psicologia num CRAS em Atibaia, sobre o trabalho com uma ONG que defende direitos LGBTs na cidade do Rio de Janeiro e sobre a abordagem da psicologia jurídica em Curitiba, no trabalho com adolescentes que cometeram atos infracionais.
Todas as realidades destacadas colocavam as dificuldades em nosso trabalho com populações que chamamos de minorias, com pessoas que sofrem opressão, uma opressão que muitas vezes é naturalizada a tal ponto que não conseguimos distingui-la como algo que está errado, por ser tão habitual.
O preconceito contra os negros, contra os indivíduos da comunidade LGBT ou contra os deficientes ou aos pobres é tão grande, tão arraigado em nós que muitas vezes nós não conseguimos reconhecer ou fazer diferente a não ser nos calar diante da violência e da exclusão causada a elas pelas pessoas. Na questão da mulher então, é absurda essa naturalização da violência.
A questão é que se calar e não atuar contra essa lógica de violência é o mesmo que aceitar, se mostrar conivente e apoiar essa atuação das pessoas.
Conheci através deste simpósio alguns grupos que abrem espaço para reflexão e acolhimento destas populações que não estão representadas na mídia e portanto no imaginário social, sentindo-se ainda mais excluídos.
A internet vem criando espaços para que esta população possa se encontrar e encontrar modelos diferentes da "norma" social padronizada que coloca os homens, brancos, heterossexuais e cisgêneros como a única possibilidade de existência digna.
Grupos no facebook, canais no youtube, revistas, coletivos de pessoas vem brigando por cavar espaço de existência, mostrando que estas pessoas negras, lésbicas, gays, transgêneros, pobres, mulheres, existem e tem muito a dizer!
Apenas através desse posicionamento, fazendo um espaço de existência e problematizando a realidade delas é que estas comunidades vão chegar aos jovens e pessoas que sofrem preconceito com sua inadequação ao modelo hegemônico, fazendo-os se sentirem parte de algo maior, parte de um grupo e não uma exceção que deve ser abolida, como muitos pensam sobre si mesmos ao descobrirem-se diferentes.
A representatividade que não aparece nas mídias tradicionais e nos espaços socialmente compartilhados ão ganhando espaço com a voz que estes coletivos dão ao um grupo que vai se aglomerando e crescendo, construindo um imaginário possível para si mesmo.
Canais como o "Canal das Bee", sobre a comunidade LGBT, ou o "Afros e Afins" sobre a comunidade negra, ou mesmo o "Jout Jout" que trata do feminismo de forma leve e acolhedora, abre caminhos e traz muitas outras pessoas no meio do Youtube e de fora dele, da comunidade, que contam e compartilham experiências incríveis de se relacionar com as diferenças de uma forma mais tranquila da que temos lidado.
Meu recado aqui e para muitos de meus pacientes que chegam num isolamento, se sentindo completamente sozinhos, é sempre o mesmo: Vá procurar a sua turma! Ela existe com certeza e está aberta a você seja para apenas observar e se sentir menos sozinho, seja para de fato se engajar e entrar numa comunidade nova, a princípio virtualmente e, se você quiser, na vida real também!
Representatividade é apenas isso: não se sentir sozinho, ter alguém no mundo que te represente. Isso é fundamental para nossa formação, para nos agarrarmos a uma possibilidade de futuro, de vida possível, de ideal de nós mesmos e muda completamente a nossa relação com a nossa própria história e com o mundo a nossa vida, trazendo saúde mental ao invés de sofrimento.
Vamos aproveitar o que os meios de comunicação e as redes sociais tem de melhor que é possibilitar o encontro? De nós conosco mesmos e com outros que nos façam bem?
Saí deste simpósio contente com as movimentações feitas pelas pessoas, em especial pelos jovens, e com certeza, apensar de muito mobilizada pela realidade que ainda é muito dura, também saí esperançosa pelo o que estamos construindo pela frente!
Sigamos resistindo!
Um abraço!
Carol
passei estes dois últimos meses preparando uma fala para o "I Simpósio Psicologia e Sociedade" do Núcleo Paradigma, um espaço de formação de Analistas do Comportamento, que aconteceu neste sábado.
Neste simpósio, minha fala foi sobre psicoterapia e feminismo e, além de meu tema, pude participar ouvindo a apresentação de colegas psicólogos falando sobre o trabalho com a questão racial (especialmente a questão dos negros) e a psicologia num CRAS em Atibaia, sobre o trabalho com uma ONG que defende direitos LGBTs na cidade do Rio de Janeiro e sobre a abordagem da psicologia jurídica em Curitiba, no trabalho com adolescentes que cometeram atos infracionais.
Todas as realidades destacadas colocavam as dificuldades em nosso trabalho com populações que chamamos de minorias, com pessoas que sofrem opressão, uma opressão que muitas vezes é naturalizada a tal ponto que não conseguimos distingui-la como algo que está errado, por ser tão habitual.
O preconceito contra os negros, contra os indivíduos da comunidade LGBT ou contra os deficientes ou aos pobres é tão grande, tão arraigado em nós que muitas vezes nós não conseguimos reconhecer ou fazer diferente a não ser nos calar diante da violência e da exclusão causada a elas pelas pessoas. Na questão da mulher então, é absurda essa naturalização da violência.
A questão é que se calar e não atuar contra essa lógica de violência é o mesmo que aceitar, se mostrar conivente e apoiar essa atuação das pessoas.
Conheci através deste simpósio alguns grupos que abrem espaço para reflexão e acolhimento destas populações que não estão representadas na mídia e portanto no imaginário social, sentindo-se ainda mais excluídos.
A internet vem criando espaços para que esta população possa se encontrar e encontrar modelos diferentes da "norma" social padronizada que coloca os homens, brancos, heterossexuais e cisgêneros como a única possibilidade de existência digna.
Grupos no facebook, canais no youtube, revistas, coletivos de pessoas vem brigando por cavar espaço de existência, mostrando que estas pessoas negras, lésbicas, gays, transgêneros, pobres, mulheres, existem e tem muito a dizer!
Apenas através desse posicionamento, fazendo um espaço de existência e problematizando a realidade delas é que estas comunidades vão chegar aos jovens e pessoas que sofrem preconceito com sua inadequação ao modelo hegemônico, fazendo-os se sentirem parte de algo maior, parte de um grupo e não uma exceção que deve ser abolida, como muitos pensam sobre si mesmos ao descobrirem-se diferentes.
A representatividade que não aparece nas mídias tradicionais e nos espaços socialmente compartilhados ão ganhando espaço com a voz que estes coletivos dão ao um grupo que vai se aglomerando e crescendo, construindo um imaginário possível para si mesmo.
Canais como o "Canal das Bee", sobre a comunidade LGBT, ou o "Afros e Afins" sobre a comunidade negra, ou mesmo o "Jout Jout" que trata do feminismo de forma leve e acolhedora, abre caminhos e traz muitas outras pessoas no meio do Youtube e de fora dele, da comunidade, que contam e compartilham experiências incríveis de se relacionar com as diferenças de uma forma mais tranquila da que temos lidado.
Meu recado aqui e para muitos de meus pacientes que chegam num isolamento, se sentindo completamente sozinhos, é sempre o mesmo: Vá procurar a sua turma! Ela existe com certeza e está aberta a você seja para apenas observar e se sentir menos sozinho, seja para de fato se engajar e entrar numa comunidade nova, a princípio virtualmente e, se você quiser, na vida real também!
Representatividade é apenas isso: não se sentir sozinho, ter alguém no mundo que te represente. Isso é fundamental para nossa formação, para nos agarrarmos a uma possibilidade de futuro, de vida possível, de ideal de nós mesmos e muda completamente a nossa relação com a nossa própria história e com o mundo a nossa vida, trazendo saúde mental ao invés de sofrimento.
Vamos aproveitar o que os meios de comunicação e as redes sociais tem de melhor que é possibilitar o encontro? De nós conosco mesmos e com outros que nos façam bem?
Saí deste simpósio contente com as movimentações feitas pelas pessoas, em especial pelos jovens, e com certeza, apensar de muito mobilizada pela realidade que ainda é muito dura, também saí esperançosa pelo o que estamos construindo pela frente!
Sigamos resistindo!
Um abraço!
Carol
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