Olá,
Como saber quando é o momento certo de interferir na formação de uma criança?
Como saber o que está certo ou errado num percurso de formação, da constituição da personalidade de alguém?
Me questiono isso sabendo não haver uma resposta, mas pensando o quanto é difícil seja para os pais, para os professores e para cuidadores de adolescentes, adultos e até idosos saber como desconstruir um conceito recebido de forma maciça da cultura ao nosso redor.
Tenho de dois lados pacientes adultos, adolescentes e alunos pequenos, bem pequenos, e que trazem questões diferentes até mim. Os pacientes, com suas queixas claras e definidas ou não e as crianças, com a demanda ampla de formação, de estarem em um grupo, de pertencerem a ele, de aprenderem alguns conteúdos específicos, entre eles, os valores da escola, que nesse caso, acredita em autonomia, em cooperação, em democracia, em construção coletiva de saberes de acordo com o interesse dos grupos.
No caso do interesse dos grupos, fico aflita em como estes podem ser cada vez mais facilmente moldados pela mídia, pelos #trending topics do Twitter, Instagram, Facebook, YouTube, mesmo sendo tão pequenos, pela influência que os adultos, crianças mais velhas e adolescentes tem ao seu redor.
Estamos conectados o tempo todo. Temos essa onda de influências acontecendo sem parar. E eles absorvem tanto ou mais do que nós o que pensam ser de importância.
Mas será que estamos atentos ao que tem importância. Quem está moldando o que acreditamos ser de importância? Somos nós mesmos? Estamos conseguindo olhar ao redor percebê-los, ou estamos apenas reproduzindo algo mecânico e não conseguindo ler nas entrelinhas, como já fomos capazes antes das informações virem mastigadas e ultra-especializadas e direcionadas ao "nosso" interesse, como tem sido a propaganda atualmente?
Estamos conseguindo olhar o panorama geral das coisas? Ou estamos nós mesmos, adultos, responsáveis pela crítica, orientação e reflexão, também limitados pelas telas, redes sociais e agrados imediatistas?
Tenho muita aflição de perceber como, cada vez mais, não conseguimos ficar em silêncio, quietos, sem alguma proposta a ser desenvolvida imediatamente após a outra. Não há pausas, não há descanso do cérebro, do olhar, do corpo para não fazer nada.
Se isso simplesmente não for algo que gere uma geração de pessoas ansiosas (como a nossa já é), não sei o que mais pode ser.
A meditação, a concentração, o silêncio, os rituais de passagem entre momentos da rotina precisam ser revistos.
Mas será que ainda conseguimos?
Torcendo e precisando que sim.
Aceitando sugestões, também!
Um abraço,
Carol
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terça-feira, 5 de setembro de 2017
quarta-feira, 8 de junho de 2016
Pensando sobre adolescentes que se cortam
Olá,
Escrevo sobre este tema, por que há algum tempo vem chegado até mim relatos sobre esta "moda" dos adolescentes de se cortarem e isso vem me chamando a atenção por vários motivos.
O primeiro deles é pela identificação, pois eu mesma, na adolescência, gostava muito de uma banda específica, e sem conhecer esta "moda", usava um plastiquinho que vinha dentro do selo de segurança no CD da banda para marcar o nome da banda no meu antebraço, feliz da vida com este segredo que, na minha cabeça, me aproximava mais deles, marcando-os como uma tatuagem provisória em mim. Coisas de fã adolescente.
O segundo é por que uma das situações relatadas a mim, veio de uma profissional de uma instituição que abriga crianças em situação de acolhimento e falava sobre o cortar-se ser uma prática comum e difundida entre os adolescentes da casa através da internet como algo "bacana" de ser feito, com adolescentes postando tutoriais de como fazer, como esconder, etc.
Me preocupou por ser algo massificado pela internet e não pelo fato em si do cortar-se, já que nunca é algo feito para machucar, pelo que tenho entendido. O adolescente, pela fase que está passando na vida, é uma criatura das mais vulneráveis possíveis, por vários motivos: ele não é mais o bebê mais lindo da casa, seu corpo está em fase de enorme transformação e em muitos momentos isso se torna desproporcional, torto, estranho e dá muito medo, na visão deles.
Além disso, afloram neles os hormônios da sexualidade que está se desenvolvendo e essa sexualização vem acontecendo cada vez mais cedo por diversos motivos, o principal deles, por conta das mídias de massa, sejam as redes sociais, os programas de TV, o Youtube, os jogos de vídeo game, e assim, o adolescente tem acesso a conteúdos que ele não entende propriamente, mas que passa a fazer parte de seu universo simbólico e de fantasias, gerando muita ansiedade e mais medo.
O se cortar, por si só, não é o problema. O problema maior é o que isso vem simbolizar. É claro que nem todo o adolescente está passando pelo mesmo momento e que não vai se cortar pelo exato mesmo motivo. Todos estão em busca de uma identificação com algo que faça sentido para eles. Querem ser alguma coisa, querem se transformar em alguma coisa, têm muita energia e vontade de serem adultos para poderem ser "donos do próprio nariz" e ao mesmo tempo muito medo, por que sabe que ainda não tem as ferramentas ainda para isso.
O que está em jogo é a auto estima, a aceitação, o olhar do outro, o reconhecimento. Eles querem ser amados, mas não sabem como, nem por que, nem por quem. Querem se transformar em algo admirável, mas morrem de medo de passar vergonha, de serem julgados pelos amigos, pelo mundo de forma geral.
A cultura do chamado "bullying" que chama assim agora, mas sempre existiu como humilhação dos coleguinhas que eram excluídos de um grupo por nenhum motivo relevante, mas apenas porque alguém decidiu assim, vem do medo dessa vergonha que todos tem medo de passar e que alguns, com tanto ou mais medo que os outros, acabam por incutir nos outros como defesa, para não serem alvos da exclusão. Ou seja, quem pratica o bullying, tem na verdade muito medo de sofrer o bullying. O que gera esse processo todo é conhecer muito bem a necessidade de acolhimento e negá-la a alguém por um motivo qualquer.
O desejo de se cortar, pode vir de diversas origens emocionais diferentes, mas fala de algo muito simples, que é a necessidade de se sentir vivo. O limite corporal no adolescente é muito importante para ele. As emoções são fortes e intensas, as crises absurdas, chora-se muito e muito alto, dá-se gargalhadas altas e se briga sempre com volume e confusão. Há a necessidade absoluta de ser notado. Quando há algo que não parece funcionar na vida do adolescente (e sempre há), como não se sentir notado por aquela pessoa que se ama, não corresponder a expectativa de um grupo (de amigos, de familiares, de professores, ou qualquer outro), há uma sensação da mesma forma intensa de frustração.
Tudo, na cabeça deles, é questão de vida ou morte, há uma dramaticidade absurda que não há meios de eles entenderem as próprias emoções de outra forma, por conta da injeção hormonal e da alta expectativa que eles tem sobre começar a vida social, afetiva e emocional.
O cortar-se pode ser uma forma de gerar um alívio a todas essas dores internas incontroláveis, passando para um foco em uma dor externa e sobre a qual ele tem total controle. Pode também ser esta maneira, de, diante da sensação de apatia nas relações físicas que ele não está apto a ter ainda, sentir seu corpo, seu limite corporal, ver seu limite e sentir-se vivo. Também é possível ser por conta da necessidade de chamar a atenção das pessoas, adultos ou pares adolescentes para si, como um pedido de socorro.
O principal não é punir o ato em si. Não há como se aproximar de alguém desta maneira, apenas através da punição. O principal é compreender que há, na vida emocional daquela pessoa, algo que está errado. O melhor que se pode fazer é conversar, não sobre o cortar-se em si, mas sobre como a pessoa está se sentindo, abrindo diálogo para isso na relação com ele.
É muito comum encararmos as crianças e os adolescentes como "café com leite" nas discussões importantes da vida familiar, escolar, ou de qualquer grupo, sem incluí-los nas informações sérias e importantes e sem conversar com seriedade, ouvindo e levando em consideração o que sentem e pensam sobre algum assunto.
O cortar-se pode ser uma forma de eles dizerem aos adultos que estão sentido, que estão pensando, que estão sim sendo afetados por alguma coisa. Mesmo que uma situação seja grave, como uma separação, uma violência, uma agressão, ou mesmo uma morte na família, se não é tratado com o adolescente ou a criança com algum tipo de verdade, isso pode sim gerar sintomas como este ou como outros (anorexia, bulimia, depressão, ansiedade).
É preciso abrir o canal de comunicação com eles, do contrário, vão sugar a informação sem compreendê-la e isso pode gerar muita angústia e sintomas na vida cotidiana deles, trazendo prejuízos na formação de identidade deles e na vida emocional que vão entender que é possível.
Ouça, fale, abra o diálogo sobre as coisas com seus filhos, sobrinhos, alunos, com as crianças e adolescentes de sua vida. Isso fará uma grande diferença na relação deles com si mesmos, com vocês e com a própria vida, trazendo segurança e tranquilidade para que eles decidam quem querem ser.
Boa sorte e um abraço!
Carol
Escrevo sobre este tema, por que há algum tempo vem chegado até mim relatos sobre esta "moda" dos adolescentes de se cortarem e isso vem me chamando a atenção por vários motivos.
O primeiro deles é pela identificação, pois eu mesma, na adolescência, gostava muito de uma banda específica, e sem conhecer esta "moda", usava um plastiquinho que vinha dentro do selo de segurança no CD da banda para marcar o nome da banda no meu antebraço, feliz da vida com este segredo que, na minha cabeça, me aproximava mais deles, marcando-os como uma tatuagem provisória em mim. Coisas de fã adolescente.
O segundo é por que uma das situações relatadas a mim, veio de uma profissional de uma instituição que abriga crianças em situação de acolhimento e falava sobre o cortar-se ser uma prática comum e difundida entre os adolescentes da casa através da internet como algo "bacana" de ser feito, com adolescentes postando tutoriais de como fazer, como esconder, etc.
Me preocupou por ser algo massificado pela internet e não pelo fato em si do cortar-se, já que nunca é algo feito para machucar, pelo que tenho entendido. O adolescente, pela fase que está passando na vida, é uma criatura das mais vulneráveis possíveis, por vários motivos: ele não é mais o bebê mais lindo da casa, seu corpo está em fase de enorme transformação e em muitos momentos isso se torna desproporcional, torto, estranho e dá muito medo, na visão deles.
Além disso, afloram neles os hormônios da sexualidade que está se desenvolvendo e essa sexualização vem acontecendo cada vez mais cedo por diversos motivos, o principal deles, por conta das mídias de massa, sejam as redes sociais, os programas de TV, o Youtube, os jogos de vídeo game, e assim, o adolescente tem acesso a conteúdos que ele não entende propriamente, mas que passa a fazer parte de seu universo simbólico e de fantasias, gerando muita ansiedade e mais medo.
O se cortar, por si só, não é o problema. O problema maior é o que isso vem simbolizar. É claro que nem todo o adolescente está passando pelo mesmo momento e que não vai se cortar pelo exato mesmo motivo. Todos estão em busca de uma identificação com algo que faça sentido para eles. Querem ser alguma coisa, querem se transformar em alguma coisa, têm muita energia e vontade de serem adultos para poderem ser "donos do próprio nariz" e ao mesmo tempo muito medo, por que sabe que ainda não tem as ferramentas ainda para isso.
O que está em jogo é a auto estima, a aceitação, o olhar do outro, o reconhecimento. Eles querem ser amados, mas não sabem como, nem por que, nem por quem. Querem se transformar em algo admirável, mas morrem de medo de passar vergonha, de serem julgados pelos amigos, pelo mundo de forma geral.
A cultura do chamado "bullying" que chama assim agora, mas sempre existiu como humilhação dos coleguinhas que eram excluídos de um grupo por nenhum motivo relevante, mas apenas porque alguém decidiu assim, vem do medo dessa vergonha que todos tem medo de passar e que alguns, com tanto ou mais medo que os outros, acabam por incutir nos outros como defesa, para não serem alvos da exclusão. Ou seja, quem pratica o bullying, tem na verdade muito medo de sofrer o bullying. O que gera esse processo todo é conhecer muito bem a necessidade de acolhimento e negá-la a alguém por um motivo qualquer.
O desejo de se cortar, pode vir de diversas origens emocionais diferentes, mas fala de algo muito simples, que é a necessidade de se sentir vivo. O limite corporal no adolescente é muito importante para ele. As emoções são fortes e intensas, as crises absurdas, chora-se muito e muito alto, dá-se gargalhadas altas e se briga sempre com volume e confusão. Há a necessidade absoluta de ser notado. Quando há algo que não parece funcionar na vida do adolescente (e sempre há), como não se sentir notado por aquela pessoa que se ama, não corresponder a expectativa de um grupo (de amigos, de familiares, de professores, ou qualquer outro), há uma sensação da mesma forma intensa de frustração.
Tudo, na cabeça deles, é questão de vida ou morte, há uma dramaticidade absurda que não há meios de eles entenderem as próprias emoções de outra forma, por conta da injeção hormonal e da alta expectativa que eles tem sobre começar a vida social, afetiva e emocional.
O cortar-se pode ser uma forma de gerar um alívio a todas essas dores internas incontroláveis, passando para um foco em uma dor externa e sobre a qual ele tem total controle. Pode também ser esta maneira, de, diante da sensação de apatia nas relações físicas que ele não está apto a ter ainda, sentir seu corpo, seu limite corporal, ver seu limite e sentir-se vivo. Também é possível ser por conta da necessidade de chamar a atenção das pessoas, adultos ou pares adolescentes para si, como um pedido de socorro.
O principal não é punir o ato em si. Não há como se aproximar de alguém desta maneira, apenas através da punição. O principal é compreender que há, na vida emocional daquela pessoa, algo que está errado. O melhor que se pode fazer é conversar, não sobre o cortar-se em si, mas sobre como a pessoa está se sentindo, abrindo diálogo para isso na relação com ele.
É muito comum encararmos as crianças e os adolescentes como "café com leite" nas discussões importantes da vida familiar, escolar, ou de qualquer grupo, sem incluí-los nas informações sérias e importantes e sem conversar com seriedade, ouvindo e levando em consideração o que sentem e pensam sobre algum assunto.
O cortar-se pode ser uma forma de eles dizerem aos adultos que estão sentido, que estão pensando, que estão sim sendo afetados por alguma coisa. Mesmo que uma situação seja grave, como uma separação, uma violência, uma agressão, ou mesmo uma morte na família, se não é tratado com o adolescente ou a criança com algum tipo de verdade, isso pode sim gerar sintomas como este ou como outros (anorexia, bulimia, depressão, ansiedade).
É preciso abrir o canal de comunicação com eles, do contrário, vão sugar a informação sem compreendê-la e isso pode gerar muita angústia e sintomas na vida cotidiana deles, trazendo prejuízos na formação de identidade deles e na vida emocional que vão entender que é possível.
Ouça, fale, abra o diálogo sobre as coisas com seus filhos, sobrinhos, alunos, com as crianças e adolescentes de sua vida. Isso fará uma grande diferença na relação deles com si mesmos, com vocês e com a própria vida, trazendo segurança e tranquilidade para que eles decidam quem querem ser.
Boa sorte e um abraço!
Carol
quarta-feira, 22 de julho de 2015
Trabalho, estudo, procrastinação e ansiedade
Olá,
sou professora de educação infantil e lido com a necessidade de entregar não trabalhos ou provas, mas relatórios individuais das crianças e como todas as pessoas do mundo tenho o problema com os prazos de entrega deles.
Semestralmente tenho que entregá-los e via de regra não consigo fazê-los até chegar bem perto do prazo final. A isso as pessoas dão o nome de procrastinação, o fato de adiarmos aquilo que tem que ser feito pelo medo de que a tarefa seja muito difícil e por acabar se distraindo com outras coisas mais prazerosas que não seriam tão urgentes no momento.
Todas as pessoas passam por isso. Estudantes e profissionais de todas as áreas.
A melhor forma de lidar com isso é intercalar períodos de foco absoluto, de produtividade, com períodos de relaxamento, de distração controlada. Quando eu digo controlada é um período de distração programado após ou como recompensa por um período de produtividade.
O que gera a procrastinação é uma ansiedade de que o produto final a ser entregue seja muito difícil ou que não daremos conta dele. Na verdade, o importante, como em todo o processo que gera ansiedade, é focar no presente e não no futuro.
O produto final não está pronto, portanto temos preguiça de fazê-lo deeesde o início e de chegar atééé o final. Porém, se pensarmos no processo passo a passo, será mais simples.
Por exemplo, para começar um relatório, eu preciso:
1 organizar as anotações sobre as crianças em um arquivo de word, e
2 a partir delas desenvolver as minhas observações e análises sobre elas.
Para isso eu preciso abrir um arquivo no word e começar a escrever as anotações. O relatório não está pronto quando faço isso, mas já está mais encaminhado do que antes de eu fazer.
O trabalho de produzir algo é sempre satisfatório e, uma vez que se entra no fluxo de produtividade, a fonte de prazer maior virá da própria produtividade e não da distração que te tirava do foco dela.
Mesmo assim, é importante se lembrar de não ficar mergulhada no foco, mesmo quando está na produtividade alta, pois não descansar a cabeça e o corpo no meio do processo, pode levar a exaustão. É preciso sim comer, dormir, beber água, levantar e dar uma voltinha, se alongar, até para que o período de produtividade possa durar.
Tente se organizar no passo a passo em suas atividades de estudo ou de trabalho e ter um período de estudos ou um semestre de trabalho mais suave, com tempo de lazer merecido e não como fonte de angústia por estar adiando suas obrigações!
E lembre-se, seu trabalho ou seu estudo é algo que você deve encarar como algo que você é capaz de fazer. Mesmo que sinta que é difícil, procure fazê-lo da melhor forma possível para você. O seu melhor é o melhor que você pode oferecer. Então ofereça e você sem dúvida se sentirá bem por tê-lo feito do seu jeito.
Um abraço,
Carol
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