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segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

Tragédias do início do ano e a necessidade de repensar as relações entre a pessoas

Olá, 

Difícil não passar por aqui para comentar as notícias doídas do país com que inicia o nosso ano. 

Primeiro perdemos um ambulante que defendeu uma colega no metrô Pedro II em São Paulo, pelo simples fato de ela ser uma transsexual e os homens, bêbados no dia de natal, distribuindo violência gratuitamente.

Difícil não lembrar que a reverberação do caso se deu pelo fato do evento ter sido filmado pelas câmeras do metrô e também pela morte em si ter sido de um homem heterossexual que defendeu a moça transsexual, num ato de heroísmo, por ser sua amiga. Se ela fosse a vítima, duvido muito que o caso teria a reverberação que teve. Como a maior parte dos casos que acontecem o tempo todo não tem. 

Depois, no ano novo, tivemos a chacina de um pai que matou grande parte da família da esposa e o filho de 8 anos, se matando em seguida. 12 mortes. Vítimas do machismo, como podemos constatar na sua carta de despedida, divulgada pela imprensa.

E hoje, tivemos a chacina na penitenciaria da Amazônia, que permitiu que facções rivais estivessem num mesmo ambiente. O Estado que é responsável por estas vidas permitiu esta violência, já que a instituição inclusive é dirigida por uma empresa terceirizada e não diretamente pelo governo. Um absurdo. 

Estou muito impactada e espero que possamos reverter esse quadro de desolação e desesperança com o qual entramos o ano. 

Temos muito o que refletir e melhorar em nossas ações e na forma como educamos as pessoas, em especial os homens, para deixar de permitir que ações baseadas em subjulgar o outro como inferior como fazem com as mulheres, com os homossexuais, com os pobres e com os negros.

Precisamos de mais empatia, mais amor entre as pessoas, mais noções básicas de direitos humanos e de justiça social para que as pessoas se machuquem menos, se tratem melhor, confiem mais em si mesmas e no outro.

Precisamos de mudanças na cultura que rege as nossas relações e nossas noções de papel social, com urgência. 

Precisamos cuidar mais de nós mesmos, para que não façamos ou sejamos vítimas de algo parecido com o que tem acontecido em nenhum grau de comparação.

Vamos ficar atentos!

Um abraço, 
Carol


sexta-feira, 29 de julho de 2016

Existem mais questões entre pais e filhos do que queremos acreditar

Olá, 

Saiu na edição deste mês um texto meu na Revista Psicologia da editora Mythos. 
Minha matéria é a última chamada "Existe mais questões entre pais e filhos do que queremos acreditar". 

Está na página 44 deste link: https://drive.google.com/file/d/0B4lRqFVUqvsnNnFfcmF5VUZLYzA/view?usp=sharing
E também na transcrição abaixo:

Espero que gostem!

Um abraço!
Carol


Existem mais questões entre pais e filhos do que queremos acreditar

Como a terapia familiar pode ajudar no desenvolvimento de estratégias para negociar de maneira saudável com a criança
Carolina Torres*

Influências na relação de uma criança com seus pais

No trabalho psicoterapêutico com famílias, existem diversos âmbitos que devemos considerar na prática clínica que influenciam diretamente a relação que os pais terão com uma criança. Não existe apenas uma forma de se constituir enquanto indivíduo.  Uma família é atravessada por gerações e relações intergeracionais que não podem ficar de fora quando avaliamos e ajudamos na orientação de uma família que se sente despreparada ou em desequilíbrio na forma de solucionar conflitos com a criança.

É importante pensarmos, antes mesmo de acolher uma família, de onde vêm as principais influências na vida de uma pessoa e tratar das relações a partir de todos estes âmbitos a que cada membro da família está sujeito. Estes âmbitos são essencialmente três: o ambiente cultural, ou seja, o contexto onde esta pessoa vive e sob que influências de valores e de ideais ele participa; o ambiente social, ou seja, as principais relações reais externas à família a que está sujeito e a que tem acesso; e também o ambiente familiar, que pode ser extenso, mas que deve se restringir a análise daqueles que realmente geram uma influência direta ao núcleo familiar que estaremos tratando.

Nem sempre é fácil definir este tipo de influência nos três âmbitos e reconhecer ao que cada núcleo familiar está sendo direcionado a idealizar numa criança, sem mesmo perceber, ou seja, de forma inconsciente.

Das relações com o ambiente cultural surgem as demandas e concepções mais amplas que nem sempre são questionadas pela família gerando padrões artificiais sobre o que é a normalidade, sobre a expectativa a que este núcleo familiar deve corresponder e que pode ser muito cruel, exigindo sucesso nas mais diversas áreas de forma idealizada e desumana como na saúde física, na aparência, no status social, na “popularidade”, em ser ou não influente, em ter ou não uma renda que permita adquirir itens específicos, entre outras coisas. Este ideal externo pode ter influência na relação dos pais com seus filhos gerando uma disparidade entre a relação real e o interesse pelo que o filho pode oferecer e do que gosta de fato, podendo gerar uma expectativa massificada que precisa ser desmistificada, para gerar menos sofrimento e proporcionar uma relação real.

Um filho que seja mais tímido, inseguro ou que tenha dificuldade de se expressar em público pode não apenas preocupar, mas também frustrar ou envergonhar pais que idealizaram um filho que fosse popular e “descolado”. Este tipo de idealização pode ter raízes na mídia, na ideia de sucesso contida em filmes, novelas, seriados, propagandas, ou também pode vir a serviço de reproduzir um desejo que os pais têm em relação ao filho de que este possa redimir sua própria experiência na idade dele, “reparando” uma fase deles de insucesso na vida escolar, por exemplo.

Não é raro ver pais que desejam ver em seus filhos uma continuação aprimorada de si mesmos e obrigam as crianças a fazerem um esporte, a tocar um instrumento, a participar de um grupo religioso, de um clube, a fazer um curso específico na graduação ou mesmo a enveredarem numa profissão, apenas porque este era o seu próprio desejo que não foi possível ser realizado. Neste exemplo se misturam as influências dos âmbitos culturais, sociais e familiares.

Desta maneira, a influência social transpassa gerações e precisa de muita reflexão para ser desmistificada e para que os pais consigam se separar da criança, deixando-a viver aquilo que realmente tem a ver com ela e não com os desejos impostos pelos âmbitos culturais, sociais ou familiares.

O problema é que muitas vezes estas expectativas e influencias não aparecem para os pais de forma consciente e por poder transpassar mais de uma geração, sendo repassada por questões não ditas que passaram desde os avós ou bisavós da criança, sem o advento das palavras, mas apenas através de ações que foram sendo reproduzidas como a única possibilidade de existência dentro deste núcleo familiar, não é claro para a maioria dos pais que seja possível encararem o filho de forma diferente, mas é!

Não raro uma mãe que saiu da casa de sua própria mãe para se casar e mudar de Estado, por exemplo, teme tanto que uma filha siga seus passos, que não permite que sua filha trave laços reais com seus pares, aflita de que a criança a deixe sozinha, repetindo sua história. Nestes casos, a criança pode sofrer por não poder expressar seu afeto pelas outras pessoas, e pode, no final do processo, fugir de casa ou traçar um caminho que gere este “abandono”, para poder finalmente travar os laços que quiser fora do controle excessivo causado pela mãe. Este é um exemplo típico da influencia do âmbito familiar.

Quando este tipo de desfecho acontece, chamamos a temática que a mãe teme de “Profecia auto realizadora”, pois o que ela teme acaba mesmo por acontecer, pelas suas próprias ações reativas ao medo de que isso aconteça. O processo é totalmente inconsciente e pode ser trabalhado num processo terapêutico que vá destrinchando as relações intergeracionais até atingir um ponto de entendimento da situação, que pode ser muito anterior a esta própria família que estamos tratando, dependendo do quanto há de conteúdo “não dito” nos núcleos familiares que geraram influência sobre esta criança.

Também é muito comum que mães ou pais tenham uma experiência de reviver a sua própria relação com os pais ao se transformarem eles mesmos em pais, conseguindo compreender melhor alguns eventos e até mesmo elaborando uma relação difícil anterior.

Neste momento pode ocorrer o quadro de “depressão pós parto”, por exemplo, que faz com que as mães que acabaram de ter filhos entrem num processo muito introspectivo que muitas vezes a deixam incapazes de cuidar do próprio filho. Este processo pode ter variadas causas em cada mulher, mas muitas vezes, pode estar associado à uma reação dela em ter que assumir o papel de mãe e revivendo na possível regressão que a maternidade pode trazer de seu próprio processo gestacional e da sua relação com a sua mãe nos primórdios da sua vida.

Os primeiros momentos de nossas vidas são sempre esquecidos por nós, e a experiência de estar presente como a principal responsável por outro ser humano, que é a maternidade ou a paternidade, é um evento que pode ser encarado de diversas formas, mas a principal delas é vivida como uma dedicação absoluta ao outro, como uma simbiose ou até mesmo uma sensação de indiferenciação entre mãe e bebê.

Esta sensação é a que acontece com os bebês, que inicialmente não tem noção de seus limites físicos ou psíquicos, tendo na relação com os pais a possibilidade de compreender aos poucos que é ser um indivíduo separado deles. Quando há uma regressão na mãe gerada por seus próprios conteúdos internos mal elaborados na sua primeira infância, a mãe tem dificuldade de oferecer suporte à individuação da criança e pode gerar dificuldades no processo de desenvolvimento dela. Na confusão mental que a regressão da mãe gera, ela pode achar natural que a criança seja esta continuação de si mesma, sem existência autônoma, e isso pode ser muito nocivo no desenvolvimento do bebê.

O trabalho de orientação familiar

No trabalho clínico de orientação familiar o que podemos fazer inicialmente é escutar a demanda de angústia gerada pela criança em seus pais e ir destrinchando aos poucos o que esta queixa significa: de onde ela vem e a serviço de quem estamos trabalhando. Muitas vezes o que os pais nos pedem é para manter a criança em um lugar de “bode expiatório” dos problemas do núcleo familiar e quando a tratamos e a criança começa a melhorar por se diferenciar dos pais e ter outra perspectiva de si mesma no espaço terapêutico, surge espaço para uma elaboração na família, desestabilizando o funcionamento neurótico do núcleo e é aí que muitos dos pais tiram a criança do tratamento, por medo do que esta necessidade de mudança no ponto de equilíbrio nas relações familiares pode gerar.

Um funcionamento doentio da família pode colocar a criança denominada “difícil” como um foco que serve para desviar, por exemplo, uma dificuldade real no relacionamento entre o casal, que tem como “desculpa” um comportamento que demanda atenção na criança que não os permite encararem um ao outro.

Uma criança é um ser muito sensível a tudo que está ligado diretamente a ela e os pais são seu porto seguro. Quando há uma dificuldade na relação entre eles, a criança se desorganiza mesmo sem ser informada através de palavras de que há algo de errado entre os pais. Há casos em que os pais dizem que a criança não pode estar sofrendo com um desentendimento entre eles, pois eles nunca brigaram em sua frente, ou, acreditam que a criança não entende nada, e que, portanto, uma briga entre os pais não pode ter nada a ver com o seu comportamento mais agitado, por exemplo.

É neste momento que os pais se enganam. Mesmo as crianças que não falam, estão sempre muito atentas e conectadas ao que acontece ao seu redor e, exatamente por não falar ou entender as palavras, que elas se conectam muito mais ao “clima” afetivo e emocional que se instaura na casa e nas relações, sendo ainda mais influenciada pelo “não dito” do que pelo dito. É importante considerar a presença e a capacidade da criança de fazer parte da vida familiar desde o início, mesmo quando ela não fala ou parece não entender nada, e é assim que se vai gerando uma sensação de pertencimento e de segurança na criança, por ser considerada um ser humano pensante tanto quanto todos os adultos da casa, se organizando e se acalmando desta maneira. 

No trabalho clínico é importante orientar os pais nesta busca de justificativas e compreensão profunda de onde vem a demanda por tratamento, mas também é muito importante  poder trabalhar com a criança entendendo a visão dela sobre como esta demanda aparece e como pode ser traduzida aos pais. As sessões em família propriamente dita, com todos reunidos são imprescindíveis na ajuda quando a comunicação está travada entre pais e filhos. A terapia pode acabar retomando uma naturalização do vínculo entre crianças e pais, especialmente quando se propõem situações lúdicas e de descontração através da qual o psicólogo pode intervir, auxiliando para que a conversa possa fluir novamente entre os pares, trazendo espaços de negociação, de compreensão e de afeto que podem ter se desgastado ao longo das brigas e desentendimentos entre pais e filhos.

Negociando com uma criança

O processo de negociação com uma criança parece complexo, mas é o mais simples possível e deve se basear num conceito muito simples de convivência: o respeito e a confiança.

Não é raro vermos adultos que lidam com crianças como se elas fossem bichinhos sem consciência, que não precisam ser levados em conta intelectualmente em nenhuma situação e que apenas são cuidados e transportados de um lado para o outro sem haver uma comunicação verbal que considere a vontade da criança. Se não há uma comunicação sobre o que está indo fazer ou outros detalhes do que acontece a sua volta, como a criança vai irá desenvolver a capacidade de negociação?

Neste tipo de relação não há nenhum tipo negociação e a criança não aprende a se colocar e não consegue se sentir segura e confiante no adulto responsável por ela. Ela pode nutrir um vínculo afetivo, mas se sente desamparada e completamente fora do controle de sua própria vida, com angústias que podem surtir efeitos colaterais variados, como a enurese noturna a irritabilidade, a dificuldade de expressão verbal, agressividade, terrores noturnos, entre outros.

É claro que não iremos oferecer a uma criança o controle total sobre sua própria vida, pois ela depende de nós, adultos, para viver durante um longo período de sua existência. Porém é sempre possível oferecer algum nível de escolha a ela, nem que seja entre um suco de um sabor ou de outro, um brinquedo de uma cor ou de outra, um lugar ou outro para sentar-se, o colo de um adulto ou de outro, entre tantas outras pequenas ações que parecem banais, mas que dão aos pequenos um exercício muito importante sobre como funcionam as escolhas e uma noção mínima de controle sobre sua vida, que afinal, se baseia em sequencias de pequenos momentos como nos exemplos que demos.

É também essencial que se comunique às crianças sobre o que irá acontecer na rotina delas e manter de fato uma sequencia de atividades que sejam mais ou menos previsíveis para que as ajude a se organizar internamente. Engajar a criança em tarefas simples como ajudar a organizar sua mochila ou lancheira para a escola no dia seguinte, marcar num calendário quantos dias faltam para um evento importante, saber o que irá acontecer na sequencia de dias, seja no período letivo ou durante as férias ou finais de semana, entre outras coisas. Eventos marcantes e que geram mobilização emocional, como uma doença na família ou um luto precisam ser compartilhados com as crianças de alguma maneira, para que elas possam também elaborar este fato, ao modo delas. Não existe um assunto que não possa ser tratado com uma criança, mas ele não deve ser tratado de uma forma “adultizada”. A criança tem seu universo simbólico e seus recursos para lidar com as situações, mas não deve ser exposta a respostas sobre o que não perguntou, mas se há interesse, ela deve sim ser participada dos eventos importantes, especialmente se tiver a ver com a morte de algum ente querido.

Na conversa com crianças maiores que apresentam dificuldades que preocupam seus pais, é possível que se encontrem num processo de muita insegurança, e que promovam brigas em relação a toda e qualquer coisa que os adultos a peçam. É comum que as crianças não aceitem pedidos simples como para tomar um banho, fazer uma lição de casa, guardar brinquedos, arrumar o quarto, ou mesmo comer um vegetal, é preciso ter muita paciência para conseguir promover uma mudança em sua noção de individualidade e também tentar perceber de que maneira se está encarando esta criança, para não fixá-la neste lugar de criança “problema”, impossibilitando através deste olhar que ela possa ser ativa em suas decisões e que possa sair do papel dado a ela pelo núcleo familiar. Por pior que o rótulo de “problemático” seja, ele é um papel exercido por ela e que ela sabe representar. Por conta disso é preciso oferecer a possibilidade de que ela exerça outros papéis, e só os adultos podem ser capazes de dar espaço para que ela dê respostas espontâneas, oferecendo um espaço de acolhimento que lhe faça sentir segurança em arriscar agir de outra forma e a partir daí decidir que papel prefere exercer.

Não é possível e nem justo exigir algo da criança, como uma postura de responsabilidade e maturidade quando se trata ou encara a criança em outros momentos como um bebê, incapaz de participar das coisas. É preciso ter consistência e respeitar o que se espera dela com clareza. É claro que para os pais a criança será sempre um pequeno a ser cuidado, mas nem por isso é impossível perceber seu crescimento e oferecer a ela situações de maturidade e de responsabilidade, sempre de forma gradual e com o benefício da dúvida, para ela possa errar e aprender aos poucos como lidar com a responsabilidade oferecida. É importante que as exigências feitas façam sentido para a criança e que não seja algo aleatório apenas porque se quer dar uma tarefa a ser cumprida. É essencial conversar sobre a razão desta tarefa ser responsabilidade dela e sua importância ao fazer isso.

O mais importante é ter em mente que as relações são sempre perpassadas por outras relações e que ter respeito pela criança, como outro ser humano, é o melhor que um pai  ou mãe podem fazer. Tentar deixá-la ser quem ela é e não uma continuação de si mesmo. Lembrar que se cria um filho para ser feliz e não para cuidar de nós ou para realizar o que nós mesmos não conseguimos realizar. Essa liberdade e respeito é o que pode gerar uma facilidade na negociação com uma criança considerada “difícil” e também com qualquer outra criança e também adulto. Devemos conseguir ser consistentes, inspirar confiança e tratar as crianças como elas são: seres autônomos e livres e, principalmente, independentes de nossa determinação.

Deixemos as crianças serem quem elas são, sempre orientando, dando exemplos e inspirando os valores humanos que acreditamos, mas sem impor ou diminuir as aspirações que surgirem deles, e veremos como elas são capazes de nos surpreender, quando recebem esta liberdade e confiança.


*Carolina Torres é psicóloga clínica e pedagoga em educação infantil. Atua em consultório particular e na Escola Alecrim. Autora do Blog “Existe Psicologia em SP” (www.existepsicologiaemsp.blogspot.com) que trata de temas de psicologia, educação e cultura. Contato através do e-mail: torres.carolina@gmail.com ou do telefone 11 9 9327 4319.


quarta-feira, 8 de junho de 2016

Pensando sobre adolescentes que se cortam

Olá, 

Escrevo sobre este tema, por que há algum tempo vem chegado até mim relatos sobre esta "moda" dos adolescentes de se cortarem e isso vem me chamando a atenção por vários motivos. 

O primeiro deles é pela identificação, pois eu mesma, na adolescência, gostava muito de uma banda específica, e sem conhecer esta "moda", usava um plastiquinho que vinha dentro do selo de segurança no CD da banda para marcar o nome da banda no meu antebraço, feliz da vida com este segredo que, na minha cabeça, me aproximava mais deles, marcando-os como uma tatuagem provisória em mim. Coisas de fã adolescente. 

O segundo é por que uma das situações relatadas a mim, veio de uma profissional de uma instituição que abriga crianças em situação de acolhimento e falava sobre o cortar-se ser uma prática comum e difundida entre os adolescentes da casa através da internet como algo "bacana" de ser feito, com adolescentes postando tutoriais de como fazer, como esconder, etc. 

Me preocupou por ser algo massificado pela internet e não pelo fato em si do cortar-se, já que nunca é algo feito para machucar, pelo que tenho entendido. O adolescente, pela fase que está passando na vida, é uma criatura das mais vulneráveis possíveis, por vários motivos: ele não é mais o bebê mais lindo da casa, seu corpo está em fase de enorme transformação e em muitos momentos isso se torna desproporcional, torto, estranho e dá muito medo, na visão deles. 

Além disso, afloram neles os hormônios da sexualidade que está se desenvolvendo e essa sexualização vem acontecendo cada vez mais cedo por diversos motivos, o principal deles, por conta das mídias de massa, sejam as redes sociais, os programas de TV, o Youtube, os jogos de vídeo game, e assim, o adolescente tem acesso a conteúdos que ele não entende propriamente, mas que passa a fazer parte de seu universo simbólico e de fantasias, gerando muita ansiedade e mais medo.

O se cortar, por si só, não é o problema. O problema maior é o que isso vem simbolizar. É claro que nem todo o adolescente está passando pelo mesmo momento e que não vai se cortar pelo exato mesmo motivo. Todos estão em busca de uma identificação com algo que faça sentido para eles. Querem ser alguma coisa, querem se transformar em alguma coisa, têm muita energia e vontade de serem adultos para poderem ser "donos do próprio nariz" e ao mesmo tempo muito medo, por que sabe que ainda não tem as ferramentas ainda para isso. 

O que está em jogo é a auto estima, a aceitação, o olhar do outro, o reconhecimento. Eles querem ser amados, mas não sabem como, nem por que, nem por quem. Querem se transformar em algo admirável, mas morrem de medo de passar vergonha, de serem julgados pelos amigos, pelo mundo de forma geral. 

A cultura do chamado "bullying" que chama assim agora, mas sempre existiu como humilhação dos coleguinhas que eram excluídos de um grupo por nenhum motivo relevante, mas apenas porque alguém decidiu assim, vem do medo dessa vergonha que todos tem medo de passar e que alguns, com tanto ou mais medo que os outros, acabam por incutir nos outros como defesa, para não serem alvos da exclusão. Ou seja, quem pratica o bullying, tem na verdade muito medo de sofrer o bullying. O que gera esse processo todo é conhecer muito bem a necessidade de acolhimento e negá-la a alguém por um motivo qualquer. 

O desejo de se cortar, pode vir de diversas origens emocionais diferentes, mas fala de algo muito simples, que é a necessidade de se sentir vivo. O limite corporal no adolescente é muito importante para ele. As emoções são fortes e intensas, as crises absurdas, chora-se muito e muito alto, dá-se gargalhadas altas e se briga sempre com volume e confusão. Há a necessidade absoluta de ser notado. Quando há algo que não parece funcionar na vida do adolescente (e sempre há), como não se sentir notado por aquela pessoa que se ama, não corresponder a expectativa de um grupo (de amigos, de familiares, de professores, ou qualquer outro), há uma sensação da mesma forma intensa de frustração. 

Tudo, na cabeça deles, é questão de vida ou morte, há uma dramaticidade absurda que não há meios de eles entenderem as próprias emoções de outra forma, por conta da injeção hormonal e da alta expectativa que eles tem sobre começar a vida social, afetiva e emocional. 

O cortar-se pode ser uma forma de gerar um alívio a todas essas dores internas incontroláveis, passando para um foco em uma dor externa e sobre a qual ele tem total controle. Pode também ser esta maneira, de, diante da sensação de apatia nas relações físicas que ele não está apto a ter ainda, sentir seu corpo, seu limite corporal, ver seu limite e sentir-se vivo. Também é possível ser por conta da necessidade de chamar a atenção das pessoas, adultos ou pares adolescentes para si, como um pedido de socorro. 

O principal não é punir o ato em si. Não há como se aproximar de alguém desta maneira, apenas através da punição. O principal é compreender que há, na vida emocional daquela pessoa, algo que está errado. O melhor que se pode fazer é conversar, não sobre o cortar-se em si, mas sobre como a pessoa está se sentindo, abrindo diálogo para isso na relação com ele. 

É muito comum encararmos as crianças e os adolescentes como "café com leite" nas discussões importantes da vida familiar, escolar, ou de qualquer grupo, sem incluí-los nas informações sérias e importantes e sem conversar com seriedade, ouvindo e levando em consideração o que sentem e pensam sobre algum assunto.

O cortar-se pode ser uma forma de eles dizerem aos adultos que estão sentido, que estão pensando, que estão sim sendo afetados por alguma coisa. Mesmo que uma situação seja grave, como uma separação, uma violência, uma agressão, ou mesmo uma morte na família, se não é tratado com o adolescente ou a criança com algum tipo de verdade, isso pode sim gerar sintomas como este ou como outros (anorexia, bulimia, depressão, ansiedade). 

É preciso abrir o canal de comunicação com eles, do contrário, vão sugar a informação sem compreendê-la e isso pode gerar muita angústia e sintomas na vida cotidiana deles, trazendo prejuízos na formação de identidade deles e na vida emocional que vão entender que é possível.

Ouça, fale, abra o diálogo sobre as coisas com seus filhos, sobrinhos, alunos, com as crianças e adolescentes de sua vida. Isso fará uma grande diferença na relação deles com si mesmos, com vocês e com a própria vida, trazendo segurança e tranquilidade para que eles decidam quem querem ser.

Boa sorte e um abraço!

Carol

terça-feira, 20 de outubro de 2015

Crianças no Controle: Mudanças na estrutura familiar e a crise na autoridade dos pais


Olá, 

Transcrevo a seguir uma matéria minha que saiu na Revista "Grandes Temas de Conhecimento: Psicologia" Número 19, publicada pela Mythos Editora, em Maio de 2015. 

ALGO ACONTECEU NAS RELAÇÕES ENTRE PAIS, ADULTOS EM GERAL, E AS CRIANÇAS, QUE DESAUTORIZA OS ADULTOS DE DAREM “ORDENS” OU MESMO LIMITES AOS PEQUENOS, MÉDIOS E GRANDES FILHOS.

Nesse artigo, vou destacar o papel da cultura e das mudanças sociais e materiais como uma fonte de influência na mudança do lugar de autoridade dos pais em relação às crianças e na presença de outras instâncias moderadoras da relação entre os pais e os filhos que atravessam esse deslocamento de papéis.

Pretendemos, também, traçar um campo para refletir as alterações subjetivas, não só em relação aos filhos, mas em relação aos projetos pessoais dos sujeitos, que acabam se refletindo no desejo de serem pais. O conceito de autoridade se define por: “1. Direito ou poder de se fazer obedecer, de dar ordens, de tomar decisões, de agir, etc. 2. Aquele que tem tal direito ou poder. 3. Os órgãos do poder público. 4. Aquele que tem por encargo fazer respeitar as leis; representante do poder público. 5. Domínio, jurisdição. 6. Influência, prestígio; crédito. 6. Indivíduo de competência indiscutível, em determinado assunto”. Essa definição do Dicionário Aurélio, nos ajuda a entender o que constitui o conceito de autoridade, que vamos abordar no sentido de seu declínio.  

A escola passou a ser responsável por transmitir o que antes era adquirido por meio do convívio familiar, como as “boas” maneiras, princípios morais e até educação sexual.

Christopher Lasch, em seu livro A cultura
do narcisismo, discute essas questões
no contexto norte-americano. Vamos utilizar
suas reflexões considerando que a cultura
norte-americana acabou por influenciar os
modos de produção e, consequentemente, de
subjetivação no mundo ocidental. Lasch pensa
na reprodução humana como na reprodução
da força de trabalho. Tanto a reprodução
em si, quanto os cuidados em relação aos
jovens, sempre estiveram centrados no seio
da família, porém o sistema de socialização
da produção, ou seja, a produção em massa,
também chamada “industrialização”, acabou
se apropriando também desses aspectos e das
funções socializadoras do lar que, após a II
Revolução Industrial, foram colocadas sob a
alçada do Estado.

O que anteriormente era adquirido por
meio do convívio com os familiares, passou a
ser recebido pela escola: “boas” maneiras, princípios
morais e até educação sexual. Mudanças
sociais, políticas e industriais fizeram com que
a escola assumisse responsabilidades antes assumidas
pelo lar, como o treinamento físico,
mental e social. Na república social, a criança
é vista como um futuro cidadão e, portanto, é
responsabilidade do Estado, e não de seus pais.
Seu bem-estar é de interesse do Estado, que
deve evitar os danos que os pais possam causar
a seus filhos. E aqui, o acesso do Estado a essas
crianças se dá por meio da escola, que assume,
nessa política, o papel de autoridade máxima
em relação aos filhos. O Professor passa a ser
Educador.

Os trabalhadores, pais dessas crianças,
são postos de lado e obrigados a trabalhar
para o Estado. O bem-estar de seus filhos é
“garantido” por essas instituições substitutas
e não há opção, pois o Estado coloca-se como
responsável por eles, em nome de um desenvolvimento
saudável para essas crianças, visando ao bem da sociedade,
como um todo.

O trabalho infantil foi proibido e a custódia
da criança era dada à escola. O Estado via
nos lares desfeitos uma fonte de jovens delinquentes
e ameaçadores. A autoridade dos
pais sobre seus filhos dependia, agora, do desejo
de esses pais em cooperar e em obedecer
aos tribunais de menores, caso contrário,
as competências do sujeito, como pai, seriam
questionadas e a convivência com sua prole
impedida.

O movimento por melhorias do lar possui grandes
contradições, pois, ao mesmo tempo em que instrui
os pais no cuidado com os filhos, dá as costas a esses
pais e toma essa função para si.

Os reformistas concordavam que a família
promovia uma mentalidade restrita e
desfavorável ao desenvolvimento da criança,
levando-os a supor que agentes externos
deveriam substituí-la para o bem da criança.
Agentes, inventados para assumir o papel dos
pais que fossem considerados inadequados,
passaram a educar e formar as crianças, sob
a tutela do Estado.

Nesse contexto, diz Lasch, surgiu também
a chamada “educação de pais”, promovida
pelo Estado por agentes especializados na
criação de crianças, para gerar melhorias
na qualidade do cuidado dado à criança na
família. A escola assumiu um papel mais extenso
– o de cultivar na criança a socialização
fora do âmbito familiar.

O movimento pela melhoria do lar
passou por contradições enormes, pois, ao
mesmo tempo em que buscava instruir os
pais nos cuidados a serem dados aos filhos,
dava as costas a esses mesmos pais, tomando
a frente nessa função. Esse movimento, que
surgiu como parte de um esforço mais amplo
de civilizar as massas, atingiu o cerne da estrutura
familiar, desautorizando maciçamente
os pais, em sua relação com os filhos.

Segundo Lasch, especialistas de diversos
campos incidiam sobre a família e retiravam
as crianças dos lares ditos “impróprios”,
impondo substitutos às figuras parentais. Percebiam,
porém, que apesar dessas ações, as
crianças continuavam “fiéis” aos pais de origem.
Começou-se, então, a pensar que aquelas
famílias, consideradas desestruturadas e
ameaçadoras para as crianças, ofereciam a
elas algo que o lar adotivo não podia dar .
A ideia, então, tornou-se “salvar” não
mais a criança isoladamente, mas toda a família
“desestruturada”, buscando, também, um
modo de civilizar as massas. Os médicos passaram
a atacar os métodos tradicionais de cuidado
com as crianças. Tiravam aos poucos a
confiança dos pais em relação à sua capacidade
de cuidar de seus filhos e iam colocando-se
no meio do caminho, com seus conhecimentos
técnicos supostamente mais adequados.
Com o advento das novas formas de
controle de natalidade, os pais se liberaram
da carga de criar filhos indesejados, mas, ao
mesmo tempo, surgia-lhes uma espécie de
obrigação de fazer com que os seus filhos se
sentissem desejados o tempo inteiro.

Nos anos 1940, a ideia contrária à anteriormente
defendida pelos especialistas aparece:
agora, os pais deveriam voltar a confiar
em seus instintos, no que diz respeito à
criação dos filhos. Os especialistas se deram
conta de que seus conselhos haviam minado
a confiança dos pais e chegaram à conclusão
de que não deveriam culpar exclusivamente
aos pais pelas faltas de seus filhos.

Os pais modernos confiam numa forma prescrita
pelos especialistas para criar seus filhos como os
“vencedores” que a sociedade exige.

No discurso dos pais, aparecia a sensação
de ter falhado em desempenhar o seu papel
como os seus próprios pais haviam feito,
sem saber o que poderiam ter feito diferente.
Esses pais temiam repetir os erros de seus
pais e, por isso, a opinião dos especialistas
virou regra de conduta na criação. O antigo
modelo de autoritarismo era abominado entre
os pais modernos e a permissividade era
agora mais comum.

A desvalorização da paternidade, segundo
Lasch, veio dessa transferência de funções
da família para organizações especializadas.
As habilidades técnicas, que o mundo
industrializado exige dos profissionais, fazem
com que os pais tenham muito pouco o que
levar do cotidiano de seu trabalho para os filhos,
além do amor. Essa situação promove
uma separação, cada vez maior, entre o mundo
do adulto e o da criança, e dificulta, cada
vez mais, as identificações psicológicas fortes
dos filhos com seus pais.

Os pais modernos confiaram em um
jeito prescrito pelos tais especialistas para
lidar com seus filhos e têm um compromisso
com uma ideia de parentalidade perfeita
– criar os filhos “vencedores” que a sociedade
contemporânea exige. O sentimento parental
não é espontâneo, mas idealizado, e o cuidado
que os pais têm para com esses filhos é
exagerado, mecânico, sufocante e esvaziado
do investimento libidinal genuíno.

A atenção da mãe apoia-se tão fortemente
na visão dos especialistas, que não
passa a sensação de segurança aos filhos.
Ambos os pais buscam, na família, um refúgio
ao mundo externo, que julgam ameaçador. O
que eles não percebem é que os padrões familiares
são oriundos, e constantemente reforçados,
pelas condições externas. Segundo
Lasch, o declínio da autoridade parental reflete
o declínio do superego na sociedade, ou
seja, uma diminuição da função paterna, que
dá limite, protege e breca os instintos nos filhos,
criando uma geração sem autodomínio
e sem freio, permissiva, que vive em função
dos prazeres do consumo exagerado.

Voltamos aqui a pensar que as mudanças
na família levaram a uma mudança no
conteúdo do superego, pois, com o fracasso
da autoridade dos pais, o superego dos filhos
mantém-se colado às imagens arcaicas dos
pais, ou seja, esse superego permanece punitivo
e severo sem flexibilização. Um clima
social de permissividade com um superego
severo como aquele da infância, resulta num
descontentamento e em modos depressivos
de subjetividade.

A abdicação da autoridade parental
intensifica, ao invés de diminuir, o medo de
punição que a criança tem, porque suscita
pensamentos de punição muito severos, daquela
fase primitiva. As experiências com a
autoridade externa complementam o treinamento
do cidadão, mas o controle social não
promove uma alteração no superego primitivo.
Coisa que só acontece nas relações familiares,
onde o vínculo é supostamente incondicional,
o que significa que independe
de um comportamento bom ou mal, mas que
é atravessado por eles e pelas consequências
deles.

Vemos, assim, que a evolução da sociedade
pós-Segunda Revolução Industrial
reformulou padrões de convívio familiar e
de condutas parentais por meio da especialização
dos cuidados com a criança e do afas-
tamento dos pais da convivência com seus
filhos. A ampliação da jornada de trabalho e
a retirada da responsabilidade da família em
relação à educação e à socialização primária
das crianças tiveram um enorme efeito de
desvalorização da autoridade parental que
abalou a autoconfiança dos pais como cuidadores
efetivos de sua prole.

“Este movimento de dar o controle às crianças, porém não é sem retorno, muito pelo contrário, já tem sido alterado e questionado pelas famílias e pela nova geração de profissionais que auxiliam e trabalham em parceria com estas famílias.”

Esse movimento de dar o controle às
crianças, porém, não é sem retorno, muito
pelo contrário, já tem sido alterado e questionado
pelas famílias e pela nova geração de
profissionais que auxiliam e trabalham em
parceria com essas famílias. Os novos pais
procuram mudar a natureza de suas relações,
colocar-se novamente como aqueles que sabem
o que deve ou não acontecer na conduta
de seus filhos e nas relações com eles, ainda
que com muito custo e com dúvidas e algumas
vezes questionando-se de estar fazendo
a melhor coisa, o que é comum que aconteça
depois de tanto tempo de questionamento sobre
sua própria condição em tomar as rédeas
da educação moral de seus filhos.

É imprescindível que os pais possam
reaver seus direitos parentais e terem dessa
maneira a possibilidade de se relacionar de
forma mais saudável com seus filhos, sem
modo de lhes dar o limite, limite este que é
fundamental e fundante para gerar crianças
e adolescentes que possam vir a se tornar
adultos seguros, confiantes e felizes, por
terem nos pais e responsáveis esse espelho
de segurança, de alguém que não lhes deixe
de colocar em risco, que lhes promova o
acolhimento e também a cobrança, a briga e
a bronca quando estiverem ultrapassando e
testando esses limites. Só assim as crianças
terão a confiança no adulto que cuida dela,
que ela sabe, que, com falhas e problemas,
sempre fará o possível para mantê-la segura
e dentro de um sistema de valores consistente,
seja ele baseado no que for, mas que faça
sentido para aquele núcleo familiar, ou, pelo
menos, para aquela parceria mãe/filho(a) ou
pai/filho(a).

* Carolina Torres é psicóloga clínica e professora em
Educação Infantil, graduada em Psicologia pela Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP),
em 2005, com especialização em:
Teoria Psicanalítica pela Coordenadoria Geral de Especialização,
Aperfeiçoamento e Extensão Universitária
(COGEAE) da mesma instituição, em 2009;
Pedagogia pela Universidade Estadual Paulista
(UNESP), em 2013;
Ética, Valores e Cidadania pela Universidade de São
Paulo (USP), em 2014

Um abraço,
Carol