quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Sentidos, limitações e intolerância

Olá, 

Hoje, conversando com um leitor do blog, percebi que tenho falado bastante sobre a necessidade do respeito às diferenças, mas não sobre o que eu penso sobre a origem destas diferenças. 

Como já comentei em outros textos, considero que cada pessoa possui a sua própria verdade e que isso se justifica por conta de uma realidade simples e objetiva que é a nossa condição real e biológica de experimentação do mundo. 

Cada um de nós só consegue experienciar o mundo através dos nossos próprios sentidos. Olhamos, ouvimos, sentimos, pensamos e refletimos sempre a partir de nossa própria experiência e só dela.

Moramos dentro da nossa cabeça e do nosso corpo, somos marcados pelas nossas experiências físicas, intelectuais e emocionais ao longo do tempo e através dessas marcas é que existimos. Somos frutos dessas marcas, produtos de uma série de desventuras e só conseguimos observar as coisas, as pessoas e o mundo através delas. 

O contato com o outro é marcado pelo que somos. Observamos o outro através dessa única lente possível que é a nossa experiência no mundo. E não existe outra verdade que não a verdade de cada um, porém, o risco de aceitarmos a nossa verdade completamente é a de anular a credibilidade na verdade do outro. Isso é a fonte da intolerância. 

Não suportamos nem pensar que a lente do outro seja diferente da nossa. Não suportamos supor que a nossa verdade seja parcial e não totalizante, por que isso gera angústia, dúvida e voltamos a pairar no universo da ignorância de não saber tudo sobre coisa alguma, nem sequer sobre nós mesmos.

Para deixar de lado essa angústia que beira o insuportável supomos coisas, inferimos coisas, categorizamos pessoas, comportamentos, formas de ser e viver, ignorando a prerrogativa máxima da vida que é a diversidade total e absoluta de possibilidades de interpretação dos sentidos possíveis dela.

Quando falamos sobre tolerância, falamos em nome de um grupo ou outro já classificado: "os negros", "as mulheres", "os homossexuais" ao invés de pensar nessa diversidade absoluta e individual em cada história, interpretação ou nas marcas.

Proponho aqui uma tentativa de retirar, nem que seja por um minuto, a nossa lente viciada em nossa verdade, para observar com abertura a verdade do outro. Essa tarefa gera vulnerabilidade e medo, mas possibilita a verdadeira conexão com o outro, ampliando de maneira impensável a nossa compreensão do mundo a cada vez que fazemos isso.

Nos colocamos no lugar do outro, tentamos compreender a sua interpretação do mundo, respeitamos a sua verdade e seguimos em frente mais ricos e cheios de experiências de vida, de conhecimento, de crescimento pessoal e coletivo.

Vamos tentar?


Um abraço, 
Carol

3 comentários:

  1. Concordo com suas colocações, gostaria de dizer um pouco sobre minha perspectiva de verdade.

    Existe ao meu ver, três tipos de verdade:

    1. Verdade matemática
    3. Verdade física científica do fato e da prova
    3. Verdade da visão, opinião, crédulo

    A intolerância ocorre também, quando não se sabe diferenciar um tipo da outra, quando se acha incontestável, absoluto o terceiro tipo.

    O primeiro tipo é o mais forte conceito de verdade. Ele é absoluto, imutável. Um teorema matemático é eternizado em sua prova. Uma vez provado não há o que se contestar. A soma dos quadrados dos catetos é igual ao quadrado da hipotenusa, hoje no passado e para sempre, independente do ser humano, mesmo que esse universo deixe de existir.

    O segundo tipo é fortemente tido como verdade, afinal há provas, raciocínio, pode ser reproduzido testado e contestado. Mas não é absoluto pois é verdade até que se prove o contrário ou que se entenda mais amplamente o assunto, pode durar centenas, milhares de anos como verdade ou eternamente, não se sabe.

    O terceiro tipo pode ser lido como a soma das verdades individuais, que parecem ser tão ligadas a nós mesmos que as abraçamos como se fosse o primeiro ou segundo tipo.

    Pois eis que até a natureza física das coisas brinca com nossa compreensão de mundo, há coisas tão loucas que se demostram verdades. Pergunte a um físico o que acha de física quântica, ele vai dizer: "Ninguém entende, ninguém entenderá, só sabemos que a realidade é absurda quando medimos, e que as coisas no mundo sub-atômico só podem ser estudadas por probabilidade. Não se pode determinar a velocidade e posição de um elétron ao mesmo tempo, ele se comporta como partícula e como onda ao mesmo tempo, ele pode estar em dois lugares ao mesmo tempo, ele pode saltar de um espaço para o outro sem passar pelo caminho, ele assume todas as probabilidades". Isso leva a teorias loucas de múltiplos universos paralelos, que vemos em cinemas, mas pode ser nossa realidade física mais verdadeira, cujos sentidos nos cegam.

    Nossa lente viciada é como essa física maluca: São mundos paralelos acontecendo ao mesmo tempo, onde as possibilidades são muitas, mas estamos presos em uma.

    Ficarmos em nossas ilhas de verdade é muito pobre perto da imensidão das possibilidades, do mar de interações que é a vida.

    O elétron é livre para viver todas as probabilidades, quem dera se pudéssemos viver a experiência de todas elas, seria intenso mas também perturbador. A cada escolha o mundo se divide em mais de um onde todas as possibilidades tem efeito, mas estamos presos em uma. As vezes me pergunto porque estou sempre na realidade mais fodida, em uma eu sou rico e nessa eu sou pobre, kkkk.

    Mas podemos trazer seletivamente essa intensidade ao escolher e não nos limitarmos a nossa visão pre fabricada, ao arriscar e entender o outro, compreender e absorver parte de sua visão, claro, dentro dos limites de nosso ser e de nossa moral. Moral essa relativa.

    Acredito que existam princípios absolutos de bem e mal, o amor é um deles, mas moral é um assunto turvo e está relacionado com nossas verdades, sendo assim há de se ser aberto.

    Enfim, já escrevi demais. Um abraço

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    1. É importante ter bases para o próprio ponto de vista. Obrigada por compartilhar o seu conosco! Um abraço!

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  2. Não seria mais simples admitir apenas que a certeza é a mãe da intolerância?

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