Olá,
Não pretendo com este texto esgotar o assunto e nem descrever tudo o que pode acontecer num processo terapêutico pois isso seria impossível. Este texto apenas fala sobre algumas dinâmicas que discutimos em um seminário que assisti no CEP em 2014 e me fez pensar bastante.
A terapia não se inicia automaticamente quando um paciente
chega ao consultório de um psicólogo. Ela se inicia quando o paciente consegue
entregar sua fala, sem reservas à escuta do analista.
O analista também precisa topar atender o caso, pois cada
analista é uma pessoa e que pode conseguir ou não lidar com essa história, com
essa pessoa e com o que ela traz consigo em cada sessão. O analista se depara
com o novo.
É muito difícil transmitir o que de fato ocorre numa sessão
de terapia, pois é um espaço solitário e ardiloso do qual quando falamos a
respeito, algo já se perde.
O que um psicólogo faz numa terapia? O psicólogo escuta o
inconsciente, o não dito e para isso, a transferência do paciente é a base que
nós sustentamos. A partir dela o paciente supõe que o analista saiba tudo sobre
ele e é a partir dessa crença, que o paciente vai conseguir trazer seus
conteúdos para fora.
Escutamos desde o primeiro contato procurando sentido. O que
nos interessa não é só a história contada pelo paciente, mas sim o que essa
fala traz e que não está dito. O que está nas entrelinhas. Buscamos entender qual
a fantasia do paciente sobre si mesmo e sobre os outros que o faz sofrer.
O inconsciente não aparece com consistência, mas surge nos
erros, nas falhas, nos tropeços da fala. Aparece e some novamente e é preciso
alguém com uma escuta atenta que possa marcar sua aparição para o paciente.
Precisamos sustentar sua existência e sugerir que ao invés de “corrigir” o “erro”
da fala, que o paciente possa entrar neste “erro” e se aprofundar nele.
Para concluir uma terapia, o paciente precisa conseguir dar
um sentido para seu sintoma, para sua queixa, para aquilo que o trouxe para a
terapia.
O terapeuta precisa lidar com essas chegadas e partidas, com
a frustração das faltas, dos abandonos de terapia que os pacientes fazem quando
não dão conta de entrar neste processo.
Fazer uma anamnese não é necessariamente nosso objetivo numa
primeira entrevista, mas pode acabar acontecendo. Deixamos o paciente falar
livremente, mas podemos ajudar com perguntas quando o paciente chega muito
angustiado.
Não somos nós que atribuímos sentido ao que o paciente fala,
mas sim ele mesmo. Pontuamos, interpretamos e sugerimos sentidos apenas a
partir do que ouvimos dele. Um paciente entra em terapia quando sai da queixa e
começa a trabalhar sobre um sintoma e consegue compreender que todo o sintoma
também é fonte de prazer e não apenas de sofrimento, daí a dificuldade de se
livrar dele.
O trabalho do analista é escutar a fantasia que paciente tem
de si mesmo e da relação que tem com o outro e “atravessar” essa fantasia,
dando a possibilidade do paciente enxergar a realidade. Mesmo uma primeira entrevista
pode ter efeito terapêutico, mesmo que o paciente não continue em terapia. Algo
na sua percepção pode mudar, ou apenas gerar alívio através da fala sobre determinado
tema, mas é importante tirar o sujeito da “falação” cotidiana para trazer outro
sentido, o do inconsciente, que nem sempre parece fazer tanto sentido, mas que pode
fazer o paciente compreender mais sobre si mesmo.
Um abraço,
Carol
A cada acolhimento se desenvolve um novo processo terapeutico em busca que sejamos só amor
ResponderExcluirBonita sua forma de falar sobre o atendimento terapeutico! Obrigada por compartilhar conosco! Um abraço!
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