segunda-feira, 13 de julho de 2015

Ouro, escravidão e a lei da maioridade penal



Olá, 

passei a última semana em férias entre o Museu a céu aberto de Inhotim e as cidades históricas de Minas Gerais, Ouro Preto, Mariana, Lavras Novas e Santuário do Caraça.

Neste passeio, além muita arte contemporânea e a natureza deslumbrante dos morros de Minas, entrei em contato com uma parte basal da história de nosso país que foi a descoberta do ouro. O foco nestes passeios é a arquitetura preservada, prédios, ruas, praças, igrejas, mobiliário, obras religiosas e artísticas, oratórios, moedas e papel moeda de toda a história da economia nacional. 

De tudo isso, o que mais me impressionou foi no próprio Museu da "Casa dos Contos", no andar de baixo, um acervo particular chamado de Senzala. Na casa, que foi moradia, fundição de moedas e também prisão para inconfidentes ilustres, mantem em sua estrutura a antiga senzala com objetos de acervo pessoal com itens que nos remetem a escravidão.

O ambiente era realmente uma senzala e nas vitrines estão expostas bolas de ferro para os pés, grilhões que fechavam mãos e pés juntos, postes de madeira com espaços para prender as mãos, chicotes, cadeados para serem usados no pescoço, além de jornais da época reclamando escravos "fujões" e oferecendo recompensas a quem os encontrasse ou anunciando um leilão de 70 escravos "examinados pelo médico da casa". Nos andares de cima moedas, artefatos de fundição do ouro que era encontrado e que precisava ter um quinto enviado à Coroa e que gerou a insatisfação e a Inconfidência. 

Hoje, em impostos, doamos muitíssimo mais do que um quinto ao Governo com a promessa de ter tudo revertido em direitos garantidos a população e que não é. Hoje esquecemos que foram estes homens tirados de seu país a força, misturados a povos que não gostavam, presos, açoitados e coisificados, os responsáveis por erguer as construções e a trabalhar gerando insumos. Nos museus temos quadros com os nobres ilustres e suas esposas e toda a linhagem familiar que os antecedeu e não sabemos o nome ou o rosto e nenhum escravo.

Também esquecemos que ainda hoje são seus descendentes que fazem o trabalho pesado, numa lógica semelhante a anterior e ainda sem grandes direitos garantidos, enquanto outros garantem o seus "direitos" através do acesso ao Capital gerado pelo que eles produzem. Eles? Ou seremos nós? Pensando nisso, não é estranho que ainda haja revolta e muita violência relacionada aos bens de consumo e ao dinheiro em si no Brasil inteiro. 

Estranho para mim é tentarmos solucionar esta longa e tortuosa história por uma lei que coloca adolescentes na prisão como forma de apaziguar uma violência que no sistema carcerário só aumenta, entrando na velha lógica de afastar o que incomoda ao invés de realmente dialogar com esta realidade e com as necessidades básicas da população que continuam tão distantes de serem atendidas. 

Um abraço,
Carol

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