Olá,
sou professora em educação infantil e psicóloga e escrevo este texto pensando um pouco sobre minha prática como psicóloga clínica. Meus interesses, são a educação infantil, a psicologia (com o viés da psicanálise) e todas as
questões que envolvam o relacionamento humano interpessoal e sua complexidade.
A forma com que as pessoas se
relacionam me interessa. Seja com o outro, consigo mesmo ou até com os objetos
e ideias. Essas relações nunca se dão da mesma forma, nunca é igual, apesar de
sempre haver alguma lógica. Para a psicanálise essa lógica é sempre a lógica do
desejo. Não do desejo sexual, do desejo enquanto motor das ações. A chamada
libido, que novamente, não se trata de sexualidade genital, mas de um meio
através do qual a pessoa se move para algum lugar para realizar alguma coisa.
O desejo de um pode estar sobre o
desejo do outro ou soterrado sob o desejo do outro. O desejo é o mote da vida,
é o “querer” que nos move. Essa força do “querer”, que é muito genuína nas
crianças, vai se sublimando, se contorcendo e se transformando na vida adulta e
pode se tornar difícil saber o que se quer, sem ser filtrado pelo socialmente
aceitável ou esperado.
Esse não saber ou não reconhecer
o próprio desejo pode gerar muito sofrimento e até desvios num caminho de
satisfação pessoal que acaba sendo postergado, adiado ou até cancelado em prol
de outras urgências da vida como o desejo do outro. Pior do que isso, o desejo
genuíno pode ser barrado não pelo desejo do outro exatamente, mas pela fantasia
que se tem sobre o que o outro espera, e que se quer corresponder a qualquer
custo.
Uma terapia não vai sugerir que o
sujeito ignore o outro e haja de forma egoísta, mas pode ajuda-lo a ampliar seu
olhar através da escuta cuidadosa de seu discurso que pode esclarecer alguns
destes desvios que passam despercebidos. A naturalização de um discurso sobre
si mesmo e sobre o outro que não é real pode ser desmontada e um novo ponto de
vista sobre a própria situação ajuda a pessoa a se situar novamente em sua vida
e nos papéis a serem representados nela.
Essa ampliação do olhar pode
tirar o sujeito de uma alienação gerada pela rotina e fazê-lo manter olhos e
ouvidos mais abertos para que desperto ele possa fazer uma reflexão mais
profunda sobre as situações, relações, emoções e eventos que geram conflito ou
sofrimento para ele.
Na relação terapêutica o sujeito
vai costurando sentidos, significados novos para suas experiências e traz a
ideia fantasiosa sobre si e sobre o outro para mais perto da realidade.
Pessoalmente encaro a entrada num
processo terapêutico como um ato de coragem e de engajamento do sujeito consigo
mesmo. A beleza do processo está na entrega de seu material mais intimo, nas
descobertas que vão surgindo a cada encontro e na formação de vínculo de
confiança que permite que tudo isso aconteça em segurança.
É através deste vínculo que a
teia de fantasia que gera o sintoma pode ser ressignificado até gerar a chamada
“cura” de uma queixa específica, mas também gera algo muito mais amplo que é
conhecimento do paciente de seus próprios processos imaginários da fantasia sobre
si mesmo e sobre o outro, base de todo o funcionamento psíquico.
Um abraço,
Carol