sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

O que acontece numa terapia?


Olá, 

Não pretendo com este texto esgotar o assunto e nem descrever tudo o que pode acontecer num processo terapêutico pois isso seria impossível. Este texto apenas fala sobre algumas dinâmicas que discutimos em um seminário que assisti no CEP em 2014 e me fez pensar bastante. 

A terapia não se inicia automaticamente quando um paciente chega ao consultório de um psicólogo. Ela se inicia quando o paciente consegue entregar sua fala, sem reservas à escuta do analista.

O analista também precisa topar atender o caso, pois cada analista é uma pessoa e que pode conseguir ou não lidar com essa história, com essa pessoa e com o que ela traz consigo em cada sessão. O analista se depara com o novo.

É muito difícil transmitir o que de fato ocorre numa sessão de terapia, pois é um espaço solitário e ardiloso do qual quando falamos a respeito, algo já se perde.

O que um psicólogo faz numa terapia? O psicólogo escuta o inconsciente, o não dito e para isso, a transferência do paciente é a base que nós sustentamos. A partir dela o paciente supõe que o analista saiba tudo sobre ele e é a partir dessa crença, que o paciente vai conseguir trazer seus conteúdos para fora.

Escutamos desde o primeiro contato procurando sentido. O que nos interessa não é só a história contada pelo paciente, mas sim o que essa fala traz e que não está dito. O que está nas entrelinhas. Buscamos entender qual a fantasia do paciente sobre si mesmo e sobre os outros que o faz sofrer.

O inconsciente não aparece com consistência, mas surge nos erros, nas falhas, nos tropeços da fala. Aparece e some novamente e é preciso alguém com uma escuta atenta que possa marcar sua aparição para o paciente. Precisamos sustentar sua existência e sugerir que ao invés de “corrigir” o “erro” da fala, que o paciente possa entrar neste “erro” e se aprofundar nele.

Para concluir uma terapia, o paciente precisa conseguir dar um sentido para seu sintoma, para sua queixa, para aquilo que o trouxe para a terapia.

O terapeuta precisa lidar com essas chegadas e partidas, com a frustração das faltas, dos abandonos de terapia que os pacientes fazem quando não dão conta de entrar neste processo.

Fazer uma anamnese não é necessariamente nosso objetivo numa primeira entrevista, mas pode acabar acontecendo. Deixamos o paciente falar livremente, mas podemos ajudar com perguntas quando o paciente chega muito angustiado.

Não somos nós que atribuímos sentido ao que o paciente fala, mas sim ele mesmo. Pontuamos, interpretamos e sugerimos sentidos apenas a partir do que ouvimos dele. Um paciente entra em terapia quando sai da queixa e começa a trabalhar sobre um sintoma e consegue compreender que todo o sintoma também é fonte de prazer e não apenas de sofrimento, daí a dificuldade de se livrar dele.

O trabalho do analista é escutar a fantasia que paciente tem de si mesmo e da relação que tem com o outro e “atravessar” essa fantasia, dando a possibilidade do paciente enxergar a realidade. Mesmo uma primeira entrevista pode ter efeito terapêutico, mesmo que o paciente não continue em terapia. Algo na sua percepção pode mudar, ou apenas gerar alívio através da fala sobre determinado tema, mas é importante tirar o sujeito da “falação” cotidiana para trazer outro sentido, o do inconsciente, que nem sempre parece fazer tanto sentido, mas que pode fazer o paciente compreender mais sobre si mesmo. 

Um abraço,
Carol